Hugo Silva, com 21 anos de idade, estudante em Línguas, Literaturas e Culturas na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro. Natural de Castelo de Paiva, é vegan há 6 meses, e conta-nos como foi a mudança.
O que te fez tornar vegetariano?
Encontrei o estilo de vida denominado por vegetariano, quando comecei a procurar outros modos de alimentação. Comecei a ficar literalmente enojado de carne. Queria um estilo de vida mais saudável, e ao mesmo tempo que não tivesse um impacto tão grande no ambiente, como as indústrias relacionadas com a carne. Foi uma escolha que levaria a muitas outras escolhas, mas a partir desse momento, pelo menos carne de porco e vaca, nunca mais consumi, e quando tento consumir, o meu corpo rejeita, acabando por parar a digestão.
Quais as principais diferenças que sentiste entre comer carne e ser
vegetariano?
Sendo
sincero, como não tinha ainda muita experiência na cozinha, a primeira coisa
que notei foi fome. Depois de ler muito, fazer pesquisas e ver documentários, comecei a
melhorar nesse aspecto. E, realmente comer direito, influencia muito o nosso organismo. Comecei
por notar que os meus níveis de energia estavam muito melhores, a minha pele
melhorou bastante, e não sentia a minha cabeça tão “enevoada”. Ser vegetariano
realmente fez muito pelo meu corpo, e acredito que uma boa alimentação é a
chave para a prevenção de muitas doenças.
Qual a tua opinião em relação ao facto de haver pessoas que não aderiram ao
vegetarianismo?
Bem,
não vou mentir e dizer “não me importa/não me afecta”, porque como vegan que
sou, idealmente viveríamos numa sociedade em que animais e humanos viveriam
em paz e nenhum mataria o outro para a sobrevivência, mas a realidade é que as
pessoas são todas diferentes, tal como as culturas a que pertencem e acreditam.
Não posso esperar que todos sigam a mesma filosofia que eu. Tenho de aceitar e
respeitar todas as diferenças.
Em algum momento houve um descuido da tua parte?
Claro
que sim, como todas as dietas, até a omnívora, toda a gente se descuida. Depois
de ser vegetariano durante muito tempo, deixei, porque sentia demasiada falta
de panados, sim de panados. E senti-me muito culpado com isso. Mas a partir daí, se me
descuidar, já não me castigo tanto, pois acho que é perfeitamente normal cometer estes deslizes, e ás vezes , por exemplo no Natal , não é conveniente não
aceitares comer bolo, porque tem ovo, ou leite. Acho que tento ao máximo não
contribuir para a crueldade animal, mas também não quero ser “prisioneiro” de
uma dieta. Não é saudável pensar no que vamos comer durante todo dia, sete dias
por semana, trinta dias por mês, trezentos e sessenta e cinco dias por ano.
O que te fez transitar do vegetariano para o veganismo?
Tudo
aconteceu quando vi o documentário Cowspiracy. Nesse documentário,
mostram a maneira cruel como criam os animais para o abate, e lhes retiram a pele, para luxos de um "animal" que se considera mais que os outros. A
partir desse documentário, passei por muitas fases, comecei por deixar o leite,
os ovos, todos os artigos de pele. Tudo que estivesse relacionado com formas de
tortura e/ou morte animal, eu não queria ter mais nada a ver com isso.
Quais as principais diferenças entre ser vegetariano e ser vegan?
Na
minha opinião o veganismo é muito mais radicalista do que o estilo de vida vegetariano, no
sentido em que não é apenas uma dieta, mas traduz-se mais numa filosofia de
vida, em que acreditas e defendes e todos os direitos dos animais. Não
frequentas touradas, não ingeres alimentos provenientes de origem animal, neste caso o leite, pois o animal não deu consentimento para nós o consumirmos. Somos
defensores dos animais e da natureza.
Consideras que a comida associada ao veganismo é alvo de algum tipo de
preconceito?
A
comida em si não digo, mas por muitas vezes nós veganos sim. Somos olhados um
pouco de lado pela sociedade. Mas talvez pela má fama que temos, pois na nossa
comunidade há muitos veganos extremistas, que julgam tudo e todos que não
adoptem o nosso modo de vida. Talvez seja por isso.
As tuas escolhas de comida “menos saudável” seguem o veganismo?
Seguem
o veganismo sim, sempre que consigo encontrar. Bons exemplos disso são os Oreos, as Pringles, pois são vegan. E existem muitas outras alternativas. É possível ser vegano e não ser
saudável, há muita comida vegana que não tem benefícios nenhuns. Tal como numa
dieta dita “normal” , a única diferença é que não prejudicas animal algum,
quando a consomes.
O conceito de ser vegan está bem desenvolvido em Portugal?
Desde há dois anos para cá, sinto que está a ter um crescimento acentuado pelo
menos na curiosidade. Quando comecei esta minha jornada, não haviam assim muitos
recursos a alternativas de, por exemplo, queijo e carne. Neste momento dá para
reparar que esses alimentos estão a começar a entrar em Portugal. Acho que se
deve muito também, este crescimento do interesse, por causa dos media, como o
youtube, etc... é uma cultura que está a
crescer, e isso é muito bom.
Existe muita oferta de refeições vegan no sector de restauração em
Portugal?
Pelo
menos no meio onde vivo, se quisermos comer vegano num restaurante, ou surgem respostas como “não tenho” ou te trazem um prato com alface e tomate e pagas 5 euros. Acredito que sim, que nas principais cidades portuguesas, existam locais com esse tipo de
cozinha. Fiquei muito feliz por saber que no Mcdonald’s e no Burguer King já existem opções veganas no menu, o que já é um bom começo.
O que pensas da percepção que a nossa sociedade tem em relação às pessoas
vegan?
Felizmente
hoje em dia, a sociedade em geral já aceita melhor este estilo de vida. E acho
que, com as próximas gerações este assunto já nem vai ser levantado. No entanto
Portugal, como tem uma cultura muito enraizada no consumo de carnes, duvido que
mude e adopte este estilo por completo. Mas isso temos de respeitar, cada qual
com as suas crenças. No entanto seria bom se existisse mais informação
disponível, talvez até nas escolas, para que estivéssemos num país com a mente mais aberta em relação ao
assunto.
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